Ainda não consigo
acreditar no quão cobarde fui quando, em vez de o encarar, fugi como se ele
fosse um qualquer polícia atrás dum qualquer criminoso, neste caso, criminosa.
Mas também é normal, não? Era a primeira vez que o via sem ser por uma webcam.
O que fará ele
aqui? Da última vez que falámos ele estava a inúmeros quilómetros de distância
e com poucas intenções de os encurtar. Mais chocada não podia ter ficado.
O telemóvel
começa a tocar. Tiro-o da bolsa para ver quem me estava a ligar, e como se já
estivesse a adivinhar, vejo a foto dele no ecrã com o nome dele escrito. Não me
restavam quaisquer dúvidas, era mesmo ele a pessoa que me chamara e de quem eu
fugira. Sem coragem para atender, atirei-o para a cama e fechei-me na casa de
banho.
Passava das 18h
quando decido, finalmente, depois de um banho quente e de algumas horas em
frente ao espelho esforçando-me para não chorar, sair.
O telemóvel tinha
agora sete chamadas não atendidas, todas dele. Hesitante, retribui as chamadas.
- Estou?
- Finalmente!
Porque fugiste de mim, Maria?
Senti os olhos a
arder devido às lágrimas que começam a acumular-se.
- Fugir de ti? Eu
não fugi de ti, nem te vi… - Era péssima a mentir, ainda assim tinha de tentar
sair-me bem, pelo menos, desta vez. – Mas estás cá?
Ouvi um suspiro
do outro lado.
- Para que estás
a mentir quando ambos sabemos que não o consegues fazer?
- Não estou a
mentir, a sério…
- Fingindo que
acredito, sim estou. Decidi que estava na altura de te ver de outra forma, sem
ser escondida por uma maldita webcam.
Para além de vir
sem avisar, ainda tinha a lata de dizer que me queria ver? Depois de meses sem
falarmos? Ele só podia estar maluco.
- Queres ver-me?
Depois daquela discussão ridícula que armaste?
- Sabes bem que
tinha os meus motivos.
- Motivos esses
que fizeram com que estivesse mais de seis meses sem notícias tuas.
- Vem ter comigo
e falamos melhor sobre isso…
- Só podes estar
a gozar comigo.
Dito isto,
desligo a chamada e o telemóvel pois já sabia que ele voltaria a ligar.
Deito-me na cama
a contemplar o teto branco deixando-me levar pelos pensamentos, pensamentos
esses que me obrigam a recordar uma amizade. Uma amizade supostamente
esquecida.
"Decidi que estava na altura de te ver de outra forma, sem ser escondida por uma maldita webcam."